- SOBRE PAVÕES E OUTROS SERES -
Bem, amigo, vou lhe contar. Talvez nem imagine, pois há tempo não digo a ninguém o que é tão óbvio a mim. Tenho um amigo, outro amigo, pavão. Na verdade já faz tempo que não nos falamos, e éramos tão próximos ele e eu, unha e carne, inseparáveis, impagáveis, e intocáveis. Eu aprendi com ele ser assim, olhar altivo sempre, ele dizia: melhor parecer um grande idiota, do que um tolo inseguro. Pavões são inexplicáveis, e é muito difícil torná-los dóceis, deve ser porque não nos acham domesticáveis o bastante, e por nos considerar um pouco intempestivos, pois eles, por comparação tão conveniente e pouco justa, nunca perdem a compostura, e disso bem me lembro. Quando havia qualquer motivo que o aborrecesse, antes de perder a calma, era sua calda lustrosa que via por último. E assim, sumia. Rotineiramente. Porém, da última vez, foi a última vez. Desapareceu meu amigo pavão, e dele tenho tanta saudade. Nunca mais me mandou mensagens telepáticas, nem mesmo trovões semi-agudos, muito menos chacoalhar de suas penas. Eu tinha um amigo pavão que falava comigo, hoje sou apenas um peixe em meu aquário vazio.
Uma foto por dia, 365 dias, 365 olhares
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